Tem uma dor que não cicatriza direito. Uma ferida que fecha por fora, mas sangra por dentro.
É a dor de ser deixada.
De ver alguém atravessando o portão e indo embora sem olhar pra trás.
Já senti isso uma vez. Achei que tinha sobrevivido. Achei que tinha aprendido. Mas aqui estou eu de novo, perguntando pra mim mesma o que é que eu tenho de errado.
Aconteceu de novo,
Ele chegou como uma brisa leve, um filme britânico indie daqueles que a gente assiste numa madrugada insone achando que a vida é poesia, que tudo é possível, que basta amar.
Ele era sorriso, era cuidado, era desejo — e eu quis acreditar. Me entreguei. Dei o melhor de mim. Abri as portas, os medos, os traumas. Mostrei quem eu era sem maquiagem, sem filtro, sem armadura.
E, mais uma vez, não foi o suficiente.
Ele partiu. Não com gritos. Não com drama. Mas com aquele silêncio cruel de quem simplesmente... não fica.
É esse o tipo de rejeição que mais me dilacera. A que não tem explicação, nem fechamento, nem aviso prévio.
Ele foi embora e eu fiquei aqui, sentada nos escombros de mais uma esperança quebrada, tentando entender por que toda vez que eu amo, o outro vai embora.
Será que sou demais? Ou de menos?
Será que assusto? Será que canso? Será que o problema é essa minha mania de sentir tudo com intensidade, como se amar fosse um ato de sobrevivência?
Eu sei que sou intensa.
Sei que entrego tudo.
Mas também sei o quanto é cruel viver nesse ciclo de ser abandonada, como se meu coração fosse um Airbnb de passagem — confortável o bastante pra um fim de semana, mas nunca pra construir uma casa.
E o pior da rejeição nem é o outro ir embora.
É o que ela acende dentro da gente.
A voz que diz: “Tá vendo? Você não é amável o suficiente. Nem desejável. Nem digna.”
Eu tento calar essa voz, juro. Mas às vezes ela grita mais alto que minha razão.
Hoje, eu não tenho final feliz pra oferecer nesse texto.
Não tem superação.
Não tem aprendizado embrulhado pra presente.
Hoje só tem lágrima. Tem peito aberto. Tem dor.
E tem a promessa silenciosa que faço a mim mesma: de continuar.
De chorar tudo o que for preciso.
De acolher a mulher ferida que mora em mim.
De, quem sabe, um dia, aprender a amar sem medo de ser deixada.
Mas hoje não.
Hoje eu só quero gritar pra quem quiser ouvir: dói pra caralho ser rejeitada.
Dói ver alguém que você ama virar as costas.
Dói sentir que, de novo, você ficou.
E se você já sentiu isso, eu te abraço daqui.
Na verdade, acho que a gente se abraça — todas nós, mulheres que já amamos alguém que não ficou.
A gente se encontra nesse lugar de dor, de esperança que insiste, de amor que ainda pulsa mesmo machucado.
Um dia passa.
Mas hoje, não.